
Era véspera de Natal. O supermercado estava lotado e as filas eram longas e lentas. O jovem no caixa terminava de passar as compras de uma senhora de cabelos cor de beterraba, quando viu o homem que aguardava na fila:
- Senhor, me desculpe – disse o rapaz. Esta é a fila para os clientes preferenciais. Peço que procure outro caixa.
- Eu sei que esta é a fila do preferencial – respondeu o homem.
- Então, senhor... Este caixa só atende idosos, grávidas, pessoas com criança de colo ou portadores de necessidades especiais.
- Se é assim, estou na fila correta.
O caixa olhou bem para o homem, que aparentava não ter mais que trinta anos e não carregava criança alguma no colo. Pensou um pouco e disse, envergonhado:
- Perdão, senhor... Eu não tinha reparado que o senhor tem necessidades especiais.
- E quem disse que eu sou deficiente?
- Ora, o senhor é muito jovem para ser idoso e...
- Eu estou grávido! – disse o homem, interrompendo o caixa.
- Como?
- Eu estou grávido!
- Que absurdo! - nesse momento, todos no supermercado acompanhavam o drama – O senhor queira já sair dessa fila antes que eu chame o segurança!
- Absurdo é a sua ignorância, rapaz! Exijo o gerente aqui agora!
O jovem apertou um botão ao lado da registradora e acendeu uma lâmpada sobre o número do caixa. Nesse momento, de um mastro até então despercebido desceu o gerente, como fosse um bombeiro chamado para uma emergência.
- Pois não, o que está acontecendo? – perguntou gerente ao rapaz no caixa.
- Este homem está na fila de atendimento preferencial e não quer sair pois diz que está grávido!
- Isso mesmo! Eu quero que meus direitos sejam respeitados!
O gerente ajeitou os óculos para mirar o homem da fila:
- Em tantos anos de supermercado, nunca vi algo assim! Isso é um absurdo!
O jovem caixa consentiu com a cabeça.
- Você não pode fazer isso! Será que você não consegue perceber que esse homem está grávido? – disse ao jovem, que quase caiu da cadeira. Virou então para o homem e continuou:
- O senhor me desculpe, prometo que isso nunca mais vai acontecer. Vou eu mesmo passar a sua compra. Você, rapaz, está dispensado.
O gerente tirou do bolso uma caixa com um botão, que ao ser apertado fez o rapaz ser ejetado da cadeira e jogado para fora do prédio. O gerente passou as compras do homem pelo leitor de código de barras e anunciou o valor total:
- Ficou em duzentos e quarenta reais
- Hmmm... posso pagar com uma mariola?
- Claro que não! Isso é um absurdo!
- Mas por quê?
- Ora, eu não tenho tantas jujubas pra te dar de troco!
***
Enquanto isso, um papagaio que a tudo presenciava virou-se para a madame ao lado e disse, consternado:
- Não acredito que perdi meu tempo prestando atenção nisso pra tudo acabar assim.
- Acabar como? – perguntou a madame.
- Assim.