
Você se lembra como foi seu dia 20 anos atrás?
Geralmente não sei nem o que fiz ontem, mas daquela sexta-feira, 11 de outubro, eu não me esqueço: estava almoçando no Restaurante Universitário quando me contaram sobre a morte do Renato Russo. Desisti então de passar a tarde na biblioteca da faculdade e resolvi voltar para a república, que ainda era
aquela na rua Prudente de Moraes. Cheguei a tempo de ver o Jornal Hoje e as várias reportagens que seguiram pelo dia, inclusive a do jornal Aqui Agora, com um texto banal e desinformado narrado sobre as imagens do clipe de
Strani Amore.
“DOIS” foi o primeiro disco que comprei na vida, com o dinheiro que ganhei do meu avô como presente de aniversário. “MÚSICA DE ACAMPAMENTO” comprei para dar de presente de Natal, mas ao chegar em casa resolvi que ficaria com o disco para mim. “AS QUATRO ESTAÇÕES” eu tinha em fita K7, copiado do LP que meu primo ganhou de amigo secreto - naquela mesma oportunidade eu ganhei uma fita com os maiores sucessos da Joana. Sério. “V” tem “Metal Contra as Nuvens”, que embalou a primeira grande dor de cotovelo que tive na vida. “O DESCOBRIMENTO DO BRASIL” eu comprei no Carrefour. Também em fita em tive o primeiro LP (“LEGIÃO URBANA”) e “A TEMPESTADE” foi o primeiro que adquiri em CD.
Apesar desses discos todos, eu não poderia ser chamado de um verdadeiro fã. Nunca tive um pôster na parede, e deixei de ir aos shows quando tive oportunidade por achá-los caros demais. Também não acompanhava tudo sobre a banda e não sabia que Renato estava tão doente, por isso a minha surpresa com a notícia da sua morte.
Eu já disse alguma vez que “Tempo Perdido” é
a grande música da minha geração. Impossível ouvi-la sem lembrar de coisas, de pessoas e histórias que se perderam pelo... tempo. E muitas outras músicas da Legião ainda mantém o apelo original, mesmo com as
patacoadas que os membros sobreviventes têm realizado.
Não é possível saber como estaria Renato Russo hoje. Seria o grande porta voz das novas gerações? Seria um velho chato e amargurado como o Lobão? Estaria fazendo shows em festivais agropecuários cantando as mesmas canções do passado? Seria coxinha? Ou mortadela? O que temos como fato é que a Legião se mantém relevante e atual, o que é instigante e assustador. É só ouvir “Perfeição” para nos darmos conta de como ainda é impossível responder que país é esse.
Apesar dos vinte anos, a máxima ainda vale:
Urbana Legio Ominia Vincit.