
A porta abriu e uma mulher de salto alto, usando um vestido preto justíssimo, pediu para que o casal entrasse. A esposa reparou nos cabelos da anfitriã; já o marido não conseguiu tirar os olhos do decote.
- Boa tarde, sejam bem vindos! Fiquem à vontade, podem se sentar. Como é mesmo o nome de vocês, queridos?
- Meu nome é Cristina, e o do meu marido é Valter. Nós somos de São José dos Campos.
- Ah, que ótimo! É um belo casal, sou uma privilegiada por recebê-los! Querem que eu busque uma bebida, um drinque para relaxar?
- Eu quero um uísque, pra ela você pode trazer um champanhe – disse o marido.
A mulher deixou a sala e a esposa perguntou:
- Uísque? Champanhe? A gente nem bebe, homem!
- Ah, pelo preço que eu estou pagando, quero provar de tudo! - A frase estava carregada de segundas intenções, mas a esposa não percebeu – E aí, o que achou dela?
- Ah, não sei... Ela não é nenhuma Paolla Oliveira...
- Querida, você também não é nenhuma Maria Fernanda Cândido e nem por isso...
- Como?
- Nada, nada... Mas que história é essa de Cristina e Valter?
- É o que me veio na cabeça, Adamastor.
- E agora nós somos de São José dos Campos, Jaqueline?
- Querido, você que inventou isso, agora tem que entrar no clima. Você acha mesmo que o nome da moça é Ana Paula Bombom?
- Acho que não mesmo...
- Ei, o que você está fazendo?
- Estou tirando a camisa, ora! Não é para isso que a gente veio aqui?
- Comporte-se, homem! Tenha respeito pela moça!
- Respeito?!? Mas...
Antes que ele terminasse a frase a mulher voltou à sala, trazendo os copos com as bebidas. Ela se sentou num sofazinho de frente para o casal e perguntou se era a primeira vez que eles faziam esse tipo de programa, pelo que foi respondido que sim. Ela quis saber se queriam esclarecer algo, então “Cristina” disse:
- Eu tenho uma dúvida sim...
- Pois pergunte!
- Achei lindos os seus cílios, são postiços?
- Sim, eu frequento um salão bárbaro, que fica aqui perto, se você quiser posso te passar o endereço. E eu achei o seu cabelo lindo!
- Ah, é aplique!
- Sério? Ficou ótimo, está muito natural!
- Obrigada! Todo lugar que eu vou as pessoas me falam: “nossa, Jaqueline, que cabelo lindo”!
O marido dá um cutucão.
- Ah, eles me chamam assim porque lá em Jacareí meu apelido é Jaqueline.
O marido abaixa cabeça e sussura: “Consertou bem...”
- Mas me fale mais de você, Ana Paula. Você estuda, tem filhos?
- Sério mesmo que é isso que você quer saber dela, Ja... Cristina?
- Não seja indelicado, meu bem, deixe a moça falar!
E a moça falou. Falou que tinha um filho de 10 anos (se o seu anúncio fosse então verdadeiro ela teria tido a criança com 11 anos de idade, mas isso não vem ao caso); falou sobre as dificuldades de ser mãe e profissional, o que causou comentários de “Cristina”; falou sobre o preço da escolinha, do material escolar, dos uniformes... As duas as mulheres passaram a conversar e trocar experiências que abrangeram pedagogia, moda, estética, política, finanças pessoais e quase todos os assuntos.
Todos os assuntos menos sexo, para desespero de Valter/Adamastor. Foi quando percebeu que o marido apontava para relógio que “Cristina” se deu conta que duas horas já se passado:
- Nossa, querido, vamos que está na hora e a Aninha tem que buscar o filhote na escolar. Pague a moça, por favor!
- Pagar a moça? Pelo quê? Nós nem fizemos nada!
- Nós tomamos tempo dela, querido. Além disso, só de conhecer uma pessoa tão batalhadora quanto a Aninha eu já me sinto revigorada! Sou praticamente uma nova mulher! Acho que a partir de hoje nós temos uma nova perspectiva do casamento, não é querido?
O marido olhava incrédulo, e ainda teve que escutar:
- Me desculpe, Aninha, o Adamas... o Valter é assim mesmo, um mão de vaca, mas é um bom homem e tenho certeza que ele vai se esforçar mais no nosso casamento!
A moça recebeu o dinheiro com um sorriso que mal cabia no rosto, e o casal foi embora com a mulher achando que teve uma tarde incrível. Já o homem partiu com uma desilusão que iria se manter pelo resto da vida toda.
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Pelo menos valeu a conversa, né?..rsrs