Acho que no primeiro dia ninguém havia notado, mas já na segunda manhã uma colega de trabalho perguntou:
- Não fez a barba?
- Não, não fiz, nem vou fazer! - respondeu ele cheio de convicção.
A colega deu um sorriso com desdém e não levou a sério, até que mais dois dias depois voltou a tocar no assunto:
- Você não vai mesmo fazer essa barba?
A resposta de Osvaldo foi novamente negativa. Depois de anos e anos barbeando-se todas as manhãs, ele estava decidido a não usar a gilete novamente.
Quem não gostou nada da novidade foi Cleide, a mulher do Osvaldo, que passou a falar mal da nova aparência do marido. "Isso é sinal de desleixo", dizia ela, sem convencê-lo. Cleide então parou de beijá-lo, reclamando que pinicava, mas nem isso o fez mudar de opinião.
Com o passar dos dias algumas pessoas se acostumaram. Foi engraçado quando os amigos começaram a chamar Osvaldo de o "George Clooney do Nova Esperança", mas à medida que o comprimento foi crescendo o assunto foi se tornando cada vez mais polêmico.
As filhas de Osvaldo também pararam de beijar o pai, e a mulher, que jamais aprovara o novo visual do marido, estava transtornada. Ouvia Cleide falar da barba de manhã, de tarde e de noite, e seus xingamentos começaram a se tornar cada vez mais duros: sapo barbudo, bode sujo, porco peludo e cara de maconheiro foram os mais suaves - os outros nomes nem posso contar!
Os apelidos dados pelos amigos também foram mudando: de George Clooney passou para Lula, depois para Talibã, para Papai Noel, finalmente, Bin Laden. Mas antes de chegar a este ponto Cleide já tinha saído de casa.
Muitos vieram falar com Osvaldo, mas sempre foi inútil. Ele não entendia o motivo de tanta perseguição ao seu visual, achava que um homem era livre para fazer o que quisesse com seus pelos faciais. Entretanto, mesmo as pessoas mais democráticas começaram a se afastar, e chegou um dia em que seu chefe deu um ultimato: ou ele se barbeava ou ia pra rua.
A resposta, que me encheu de orgulho, Osvaldo deixou escrita sobre a mesa vazia do escritório: "Jamais!"
Mas o tempo foi passando e, por mais que eu estivesse ali, era evidente que Osvaldo começou a sentir a solidão. O brilho nos olhos de quando ele se via no espelho havia sumido, e os sorrisos passaram a ser raros e tristes.
Os comentários nas ruas, que antes o enchiam de orgulho, tornaram-se maldosos e humilhantes, o que tornou Osvaldo um recluso. "O novo Matusalém" foi o último apelido que lhe deram.
Diante daquele quadro, não tive outra alternativa. Apesar de termos passado grandes momentos juntos, entendi que o melhor era deixá-lo, por isso me desprendi fio a fio e o deixei hoje pela manhã. Sei que ele vai se assustar, mas espero que entenda que fiz isso por amor.