
Depois de aproveitar a bela manhã em Ipanema chegou a hora de voltar para o hotel, colocar um terno e ir para o fórum, então fui para o calçadão e dei o sinal para o primeiro táxi que passou. Parou um carro novo, salvo engano um Vectra, e eu entrei, dei bom dia e disse:
- Rua do Russel, na Glória, por favor.
O motorista me olhou pelo retrovisor, fez um sinal com a cabeça e seguiu em frente.
E seguiu para um lado.
Depois para outro.
E foi em frente de novo.
Para retornar para o outro lado mais uma vez.
Eu tenho um péssimo senso de direção mas percebi que alguma coisa estava errada. Imaginei que o motorista estava mal intencionado fazendo o taxímetro rodar indevidamente, mas aí então ele fez a pergunta fatal:
-O o o o se-se-senhooor sa-sabe me-me-me explica-car co-como cha-chega nessse lu-lugarrrrrr?
Não sei o que mais me surpreendeu, o fato do motorista ser mais gago do que gago de piada ou ele dizer que não sabia como chegar na Glória. Como eu não conhecia o caminho, tentei passar alguns pontos de referência:
- Essa rua do Russel fica perto do Hotel Glória. Perto da Marina da Glória.
- Ho-o-otel Go-glória? Nã-nã-nãoo conhe-conhe-ço.
Surreal demais para ser verdade: um taxista perdido no trânsito, que não sabia como chegar no bairro da Glória, que não conhecia o Hotel Glória, e que falava como um personagem da Escolinha do Professor Raimundo. Comecei a olhar fixamente para o motorista para ver se ele era o Gugu disfarçado e procurei por câmeras escondidas, mas ele passou então a se justificar:
- Esse t-tá-táxi éééééééé do-o-o meu tio, que tá-tá-tá do-o-ente e eu co-co-comeceiiiii a a a a ajudá-dá-lo-o onteeem. Só-só-só num seeei os c-c-ca-caminhooos muuuuito bem aiinda.
Só eu mesmo para cair nas mãos de um estagiário de taxista. Expliquei para ele que ele deveria sair da Zona Sul e seguir no sentido do centro, e assim ele fez até que apareceu um posto de gasolina no caminho aonde parou para pedir ajuda.
O frentista ouviu a demorada pergunta e olhou para dentro do carro de cara brava, certamente pensando que era algum tipo de brincadeira. Quando viu a minha cara de assustado, porém, o rapaz percebeu que a coisa era séria e indicou a rota para o motorista.
E o ta-ta-taxista foi o caminho todo falando sem parar (bom, tanto quanto possível) e ao chegar finalmente no hotel pediu desculpas e não cobrou pela viagem. Até hoje tenho medo de encontrar na internet um vídeo comprovando que eu cai numa pegadinha naquele dia.
E isso é tudo, pe-pe-pessoal!